quarta-feira, 20 de abril de 2011

Dilemas 'fotografísticos'..

Discussões de ontem a noite c/ grandes parceiros da fotografia da capital e de hoje c/ colegas do Correio do Povo não me deixam ficar 'mudo':

Quando você contrata um fotógrafo entenda que não estás contratando 1 ou 2 horas de momentos de inspiração, mas sim uma vida inteira de estudos, indagações, pensamentos, inspirações e sabedoria que estão diretamente depositadas naquele clique, naquele frame, seja ele digital ou analógico. E que farão deste um registro exclusivo, de um momento único, algo inédito e extremamente pessoal, mas que de certa forma está vivo eternamente, porém estático e fragmentado para ser visto e apreciado. Não vejo você chegar pra um médico cirurgião plástico e dizer "ahh são só uns cortezinhos, nada demais.." ou pra um Chef de cozinha, quando ele lhe perguntar sobre o que irá servir no jantar mais importante da sua vida, jamais ouviria algo do tipo: "ahh serve qualquer coisa aí que já está bom!".. Não vou nem dar o exemplo caso fosse uma garota de programa, pois muitas destas tem bem mais vergonha na cara e personalidade que muita guria que conheço quando se trata de trabalho.



Enfim, meu intuito é somente deixar claro que acredito na fotografia e sei que é dela que muitos de nós somos movidos e impulsionados, profissionalmente ou no dia a dia, num simples passeio, numa reunião com amigos, enfim... Mas acredito muito mais quando percebo que fotógrafos talentosos, com ideias deslumbrantes e com muito pouco conseguem passar sentimentos, sonhos e transformar algo que nem sempre é tão bonito em algo simplesmente atrativo e encantador. Estes, em grande parte, nem se dizem FOTÓGRAFOS. Até desconversam, apenas dão um sorriso e mudam de assunto.. Esta é uma das grandes diferenças entre o que se diz fotógrafo e o que é fotógrafo.



Em contraponto, me entristece ver que cada vez mais há chantagem, sarcasmo e pouco caso, pra não dizer deboche, por parte dos contratantes. Você vê fazerem das tripas coração (em termos de orçamento) pra trazer aquela celebridade bacana ou aquele patrocinador que vai dizer como você é super foda naquela noite. Daí surgem frases como as que estamos acostumados a ouvir: "ahh, só pra te avisar, não sobrou cachê pro fotógrafo" ou "a gente divulga o teu nome e tal, sabe como é né querido/a.." (com aquele ar de que está fazendo aquele favorzão).. E mal sabem eles que quem acaba se queimando de verdade não somos nós, mas sim eles. E mais, terão um trabalho que dificilmente sairá da divulgação dos releases e veículos daquela semana, pois a displicência fica estampada no resultado final do trabalho.



Sei que quem deveria ler isto daqui não o fará, mas eu também sei que você, fotógrafo, amante ou mero curioso ou 'aspira' do ramo e que está lendo isso pode fazer com que este texto chegue a quem tem que ser conscientizado. Ninguém vive de ar, de sorrisos, de créditos em jornais/revistas. Todos temos contas a pagar e sabemos o quanto é difícil ter bons equipamentos, mantê-los em dia, o quanto se paga caro por cursos/workshops e, além disso, ter cabeça para executar um bom trabalho. O melhor trabalho. Um trabalho que ecoe não só uma semana ou duas, mas pro resto das nossas vidas.

Contribuições para este texto serão muito bem vindas.. sendo positivas ou negativas.. explanem! Uma ótima páscoa a todos! 0/

.....Emmanuel Denaui.
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Fotos: Emmanuel Denaui / proibida qualquer tipo de reprodução e/ou utilização sem autorização.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O novo Hitler?

A polêmica gerada pelas declarações do deputado federal, Jair Bolsonaro (PP-RJ) me fizeram vir ao editor de textos colocar algumas reflexões.

A maioria das pessoas com quem conversei 'apedrejou' de forma incondicional este representante do povo. E a justificativa está no racismo e no pré-conceito imbuídos em suas palavras. - Muito bem, que assim seja! Somos todos conscientes e cidadãos de bem! (- Ah, e como estou rindo!). Pois o que se espera de um representante popular? Obviamente, muitos negros e homossexuais devem e podem ter votado nele. Mas onde está o problema de fato? Gostar ou não de negros ou de homossexuais é realmente um problema? A liberdade de se expressar livremente e dizer o que se pensa ou sente, não seria um direito? Por que se perde esse direito ao se representar uma grande parte da nação?

O que não se avalia aqui, ao criticar e condenar, é a linha de pensamento de cada pessoa. Costumamos esquecer de onde a pessoa vem, do meio em que vive, em que ela acredita... Quem de nós já não criticou o mau-hálito de alguém, mesmo sem saber que a pessoa está extremamente doente? Quem não julgou a roupa transada e escandalosa de uma guria hippie-chic, só pelo fato de ela ser diferente das normais? E o sotaque de um interiorano? A comida favorita de uma pessoa que, pra nós é um absurdo ser comestível.... e por aí vai.... Ficaria parágrafos citando situações, das mais simples às mais graves, pelas quais passamos todos os dias, e que, de certa forma, são manifestações preconceituosas.




Alguns (ou muitos) nem sabem, mas político Bolsonaro é militar (ou preciso traduzir o fato dele sentir saudades dos presidentes Médici, Geisel e Figueiredo?), tem premissas e pensamentos fechados e sem muitas variáveis. E mais, ele as defende, explicitamente, totalmente despreendido e sem vergonha disso. Quando ele diz não aceitar ser operado por um médico ou viajar em um avião pilotado por um cotista, não me dá a entender que seja por um negro, um índio, enfim, ou por qualquer raça/credo que seja. Mas sim, que no Brasil as cotas ainda não garantem que o pretenso estudante seja um ótimo profissional. Aliás, esta é uma faca de dois gumes, pois nem mesmo aquele estudante que prestou o vestibular, tirou uma média considerável para estar na universidade, seja tão melhor quanto o que passou através das cotas.

Não estou justificando a classificação e a forma dele criticar atitudes, opções e contextos sociais, mas ninguém é mais ou menos qualificado do que ele próprio para se auto julgar. Se ele é contra desfiles gays, então todos católicos praticantes do Brasil deveriam ser execrados, pois também são contra, ou pelo menos, deveriam ser, se fossem praticantes fiéis da sua religião. O pensamento de Jair é tão previsível e curto que chega a ser frágil, pois é velho. Como em seu comentário sobre a questão do seu filho não correr risco de ter relações homossexuais por ter sido um pai presente e o mesmo ter tido boa criação. Isso tudo nada mais é do que uma ilusão quanto a sua família e seus agregados, que vivem numa bolha, isolados, de tudo e de todos. Um planetinha 'bolsonarense'. Planeta esse de um homem à favor de critérios militaristas, de condutas rídigas, sarcástico e que defende a chamada 'integridade da família', da qual diz não apenas acreditar, mas dela fazer parte.

O deputado pagará sim por suas declarações, pois no país democrático tudo o que vem de forma pública e polêmica sofre punição. - Aham, sei! - Mas afinal, fica a questão: não se pode ou não se deve externar os próprios pensamentos quando se é pessoa pública? As ditas 'minorias' realmente transformam um pontinho em uma super bola? Realmente é necessário se preocupar com pensamentos ultrapassados, mas passíveis de influenciar outras mentes?

Engraçado mesmo, é ver as mesmas mentes esclarecidas não comentarem a matéria encartada em um conhecido jornal da capital gaúcha, relacionando a homossexualidade como causa de atos de vandalismo e perturbação pública. A ironia não só é pouca, mas hipócrita e de vista tão ou mais curta do que a de um cavalo de carroceiro. A diferença é que quem pilota a carroça deste cavalo não enxerga e muito menos pensa; mas jura que o faz por motivos. E nós jornalistas sabemos muito bem quais são.

E para o leitor que chegou até aqui, o resumo de todo esse blá blá blá bolsonarista é simples e prático: ser pré-conceituoso não é crime, (desde que não haja microfones ao redor), mas discriminação é. E mais: se isto tudo não der em nada, sem dúvida será uma cartada de gênio em termos de alcance midiático e popularização, com direito a fãs e reeleição muito em breve.


Para quem não viu:


.....Emmanuel Denaui.
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