...continuação
Engraçado, deixar de ser ‘nerd’ e me tornar um ‘cara legal’ foi mais fácil do que pensei. Bastou algumas tragadas na ‘mary jane’, 4 rodinhas de polyuretano sob um ‘shape’ de marca e a troca de óculos fundo de garrafa por lentes de contato. Novo cabelo, uns quilos a mais (academia) e pronto. Está feito o modelo perfeito estudante malandro de 2º grau. Nem minha família me reconheceu na minha volta do RJ. Como havia tido um fundamental forte, meu colegiado foi, praticamente, sem estudo algum. Pois tudo que já havia visto no CBC, era repetido, no estadual, só que, como em uma receita maluca de cozinha, misturando repetidas greves, drogas, malandragem, festas e muito do ‘não fazer nada porque é bom demais’. Amar era preciso, afinal era um novo rapaz. Agora eu podia tudo! Que nada, aos 14 tomei meu primeiro fora. O nome dela era Vânia, morava do outro lado da rua da onde me mudei e estávamos bem próximos até o momento em que eu disse “gosto de você, quer ficar comigo?’. Sabendo que a placa ‘no chances’ estava ligada, nunca mais apareci, ela se mudou tempos depois. Vida desgraçada, pois voltei para a mesma rua logo após, esperançoso, e só encontrei a Rebeca. Guria chata, que estudava no Rosário, metidinha e paty. Vivamos brigando um com o outro. Aliás, nunca xinguei tanto uma guria como a Rebeca e detalhe, a única que eu devia ter dado o devido valor, pois a gente só nota que alguém gostou muito de nós quando é tarde demais. A esquelética, limpadora de encanamento, Olívia Palito, palito de fósforo, barbie falsificada (acho que chega de apelidos, né?!). A tal da ‘Lady Murphy’ tinha se apresentado pra mim finalmente, só que a gente nunca quer lembrar quem ela é e fazemos questão de nunca lembrar onde ela mora também. Mas aprendi a amar da forma mais tímida e infantil, mas aprendi.
Tinha 15 anos nesta foto..
Numa das minhas peregrinações pelas ruas da capital, bebendo muito vinho enfiado em uma sacola pra não manchar a mochila, com muita gurizada seguindo aquela fila de skatistas pela calçada, conheci a Fernanda. Meus 15 anos mudaram após isso, pois nunca uma garota tinha me fez querer mudar. Sem drogas, sem álcool, uma beleza sem igual, fazia meus saltos serem mais altos, minha sede por álcool diminuir e minha fome por conquistas aumentar. Certo dia, na escadaria da praça 15 ouvi ela me dizer ‘vai lá Noel, que tu consegue!’. Noel era meu apelido de bairro e nunca nenhum dos meus amigos tinha me dito algo se quer próximo disso. Foi meu primeiro pulo de verdade e logo após vieram muitos pulos ousados. Já tinha celular e resolvi arriscar ligar para ela. A coisa foi acontecendo, o cinema foi marcado e estava lá minha primeira namorada. Mais velha, ela tinha sonhos e metas, já estava pretendendo faculdade de direito (seguir a carreira de seus pais) e me incentivava a viajar pelo mundo e, por incrível que pareça, com ela. Um ano e meio depois, a felicidade era plena, pois ir para a praia no final de semana, para a casa da família da princesa e ainda por cima dizer que ia para a madrinha, além de uma grande aventura, era uma grande conquista. Mas 1.6 não se tratava da potência do motor do carro em que viajávamos nos finais de semana. Significava o bico como promoter nas festas do Strike, o estágio na Caixa Federal e o segundo grau de noite. Certa vez, furei a famosa sexta-feira da viagem feliz, não podia viajar, pois era formatura de um amigo e desta vez perderia a carona para praia.
Maldita viagem! Pela manhã, pegaria o primeiro ônibus para Tramandai, mas recebi uma ligação que não estava no script. Era a avó da Fê pedindo para que eu descesse, pois iriam me buscar ali em casa. Esquisito, pois nunca havia acontecido e o mais intrigante de tudo é que não havia conseguido dormir aquela noite. Tinha tido pesadelos mesmo estando acordado e foi a primeira noite de verão em que senti frio de inverno. Ninguém jamais entenderá do porque acreditei tanto na felicidade quanto naquela época e tenho muito medo hoje de ser feliz como era. Ninguém sabe o quanto é difícil se conhecer de verdade nossa própria mãe já estando com 14 anos. A base de tratamento psicológico e convívio forçado com famílias que nunca foram suas e que representavam, em determinadas (muitas) vezes, muito mais do que a minha família original. A família a qual conheci aos 15 através da Fê me servia de espelho para o dia em que eu construísse a minha própria. Mas o espelho se quebrou. É isso mesmo que você está pensando. Acidentes podem acontecer e jamais estamos preparados para tal. Não é a toa que só quis tirar minha carteira de motorista após 10 anos deste fato e, sempre que me perguntavam do porque não tinha carro, eu respondia, com um tom irônico, que ‘carro mata muita gente’. (haja lenço pra escrever isso daqui...). Enfim, sem dúvida nenhuma que Deus escreve certo por linhas tortas, mas a novidade que surgiu logo após esse fato lamentável só conto daqui a 3 dias... novamente...
Me emocionei novamente com a história da Fernanda... sem palavras. Espero ansiosa o próximo texto. Beijos, amigo.
ResponderExcluirD'nauiy,
ResponderExcluirCara, tu tens muita familiaridade com o texto, não é em vão que estás cursando jornalismo.
Aposto e ganho, que ainda vou entrar na fila de autógrafos por lançamento de livro teu na Feira do Livro , algum dia.
Arrebenta Manu.
Muito bom...Nada é permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas.
ResponderExcluirCharles Chaplin