sábado, 27 de junho de 2009

Eu não sei fritar um ovo!

Todo mundo, alguma vez na vida, já reclamou da imprensa. Quase todos já praguejaram gritando aos quatro ventos que ela servia aos interesses do governo, escondia fatos e, como dizia minha avó, era amasiada com o "demo". Antes de os jornalistas receberem uma formação sistematizada em um curso que veio se moldando às novas tecnologias, a reclamação incidia sobre a falta de qualificação dos jornalistas.
No último dia 17, a imprensa brasileira levou um soco no estômago quando o Supremo Tribunal Federal (STF) ao decidir pela não obrigatoriedade do diploma demereceu o ensino universitário. Mais uma vez o Brasil retrocede e acaba servindo aos interesses de uma elite que usa a alienação como forma de conseguir o que quer que seja.



Ao contrário do que se pensa, não só a liberdade de imprensa está em perigo, já que sem diploma o nepotismo vai rolar mais solto ainda, mas, também, a qualidade de informação que a população vai receber. O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, afirmou que, assim como ninguém precisa fazer faculdade de Gastronomia para fritar um ovo, é desnecessário cursar Jornalismo para levar informação à população. Claro que ninguém precisa fazer faculdade de Gastronomia pra fritar ovo, ou fazer Jornalismo para escrever um artigo. Mas um chefe que tem curso de Gastronomia terá o conhecimento necessário para inovar nos sabores, misturar ingredientes e a segurança suficiente para arriscar elementos que um reles mortal acharia impossível. O mesmo vale para o jornalista que passou pela universidade. Ele terá jogo de cintura para lidar com as artimanhas da política, ética para lidar com fontes e conhecimento necessário para entender que jornalismo é muito mais que um nome no jornal, ou um rostinho bonito na TV. Ao curvar-se frente à decisão do Supremo que desobriga o diploma para o exercício da profissão, mais uma vez, que fala em nome da população brasileira demonstra que não entende o papel da mídia e nem o valor da educação, o que é muito perigoso. O que podemos esperar de políticos que não sabem onde fica Roma ou, até, o que significa a sigla ENEM, e tampouco lêem os jornais?

O que podemos esperar de uma nação que esquece a sua história e acredita que a volta da ditadura, opressora e sem nexo, é a melhor saída? O que podemos esperar de um Supremo que compara a atividade do jornalista a um profissional da gastronomia? É claro que ambos necessitam de formação. Menos mal que os cursos de culinária seguem oferecendo diploma e os grandes restaurantes contratando quem tem o nobre canudo. Mas, de qualquer forma, vamos todos fritar ovos!*

Assinado: aluna do 3º semestre de Jornalismo (Rafaela Haygertt)

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